Associação Angrôkrere-Mebengôkre

Dia do Indígena

Da Invasão à COP 30: a voz dos povos indígenas clama por reconhecimento

Cinco séculos de luta por direitos e o conhecimento ancestral que o Brasil insiste em ignorar na rota para a COP 30 em sua própria casa.

Quinhentos e vinte e cinco anos se passaram desde que as caravelas portuguesas aportaram em terras brasileiras, um marco para a história oficial, mas uma invasão para os povos originários que aqui já habitavam. De lá para cá, a luta pela conquista de direitos tem sido uma constante para os Guaranis, Tupiniquim, Puri, Kayapós, Tembé, Hixkaryanas, Katxuyanas, Munduruku, Yanomami, Makuxi, Apurinã e tantos outros “parentes” que formam a rica tapeçaria do Brasil indígena.

Do norte ao sul do país, a marca da terra ainda não demarcada é uma ferida aberta, e mesmo as áreas homologadas pelo Governo Brasileiro, em muitos casos, carregam a dolorosa cicatriz do sangue derramado em conflitos por território. A espera por justiça e reconhecimento se arrasta, enquanto o Brasil, paradoxalmente, se prepara para sediar a 30ª Conferência das Partes (COP 30) na capital paraense, Belém, um evento de crucial importância para o futuro do planeta, mas que, segundo as vozes indígenas, ocorre sem o devido diálogo e participação daqueles que detêm um conhecimento ancestral para a preservação ambiental.

A demarcação de terras indígenas não é apenas um direito constitucionalmente garantido; é a condição fundamental para a sobrevivência física e cultural destes povos. A posse ancestral da terra conecta os indígenas à sua história, suas tradições, sua espiritualidade e aos recursos necessários para sua reprodução sociocultural. A morosidade e os entraves nos processos de demarcação expõem essas comunidades à violência, à exploração ilegal de seus territórios e à perda de sua identidade.

Enquanto o mundo debate soluções para a crise climática e a perda de biodiversidade, os povos indígenas carregam em seus saberes milenares a chave para uma relação mais harmoniosa com a natureza. Suas práticas de manejo florestal, seu conhecimento sobre as propriedades das plantas, seus sistemas agrícolas tradicionais e sua compreensão dos ciclos naturais são um patrimônio inestimável para toda a sociedade. Ignorar essa sabedoria é perder uma oportunidade crucial de construir um futuro mais sustentável.

O 19 de abril, que outrora era conhecido como “Dia do Índio”, hoje ressoa como o “Dia dos Povos Indígenas”, uma mudança significativa que reflete a luta por reconhecimento da diversidade étnica e cultural que compõe o Brasil. Longe de ser uma data festiva, o 19 de abril de 2025 se apresenta como um “dia vermelho” no calendário dos povos originários, um lembrete da persistente luta por direitos, pelo fim da violência e pelo respeito à sua essencial importância para a construção de um Brasil verdadeiramente plural e justo.

A história dos povos indígenas no Brasil é uma história de resistência, de profunda conexão com a terra e de inestimável contribuição para a cultura e o meio ambiente. Ignorar suas vozes e negligenciar seus direitos é um erro que compromete não apenas o presente, mas também o futuro do país e do planeta. A COP 30 em Belém representa uma oportunidade única de reconhecer a centralidade dos povos indígenas na agenda ambiental global e de construir um diálogo genuíno que valorize seu conhecimento e suas perspectivas. O Brasil do cocar clama por ser ouvido.

Texto: Martha Costa – Jornalista DRT/PA 2974

Fortalecendo o povo Mebengôkre, protegendo a floresta, construindo o futuro.

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